BRADESCO - Resultado no 1º trimestre/2020
Levemente negativo, com sinalização de deterioração forte da carteira
O Bradesco apresentou resultados ligeiramente negativos, na nossa visão. A companhia também apresentou sinais de que a espera fortes impactos da crise do Covid-19 sobre a qualidade da carteira de crédito.
Observamos que apesar de um desempenho positivo nos dois primeiros meses do ano, o impacto da quarentena a partir da segunda quinzena de março já foi relevante, principalmente no aumento da provisão e queda nas receitas de serviço e seguros. Por outro lado, o banco ainda conseguiu registrar crescimento da carteira de crédito, conforme projetávamos. Diante desse cenário, mantemos nosso preço alvo para 2020 em R$28,40 e nossa recomendação de Outperform.
O ponto de maior destaque do resultado foio aumento de provisão na ordem de R$ 2,7 bilhões, sendo R$ 2,5 bilhões de provisão complementar e R$ 200 milhões de provisão requerida diante da crise. Esse número representa um crescimento de 68,5% t/t e 86,1% a/a, e pode ser visto como um movimento de antecipação do Bradesco frente ao cenário para os próximos trimestres.
Cabe destacar que o banco traz em seu relatório do 1T20 um gráfico que mostra o comportamento da inadimplência no período de 2016/17, tentando estabelecer um paralelo da dimensão da deterioração observada naquele período com a potencial amplitude desse novo ciclo de deterioração. Em dez/16, ponto que seria o pico do NPL, chegou a 6,7%, frente a 4,2% em dez/19.
Embora essa provisão adicional traduzir uma postura para se adiantar em relação ao cenário futuro, destacamos que os índices de inadimplência já apresentaram uma piora, principalmente na MPE e na PF, que cresceram 80 e 40 bps t/t, respectivamente.
O risco adicional a partir dessa piora além da nossa expectativa é de que haja uma deterioração adicional nos próximos períodos não refletida em nosso modelo, considerando que o impacto no 1T20 foi somente dos 15 dias finais.
Um último impacto da crise pôde ser visto na queda de 11,8% na receita de serviços e seguros. Quando analisamos somente as receitas de serviços, destacamos que a queda pode ser justificada pela piora do cenário econômico, como aumento do desemprego.
Mas a diminuição de circulação de pessoas e fechamento das agências, visto que muitos negócios ainda são feitos no atendimento presencial, também influenciam negativamente.
Na receita de seguros, chama atenção a queda de 24,8% na comparação t/t, tendo como uma das principais justificativas a grande volatilidade do mercado financeiro, impactando o resultado financeiro da seguradora.
Perspectivas.
Para os próximos trimestres, esperamos uma continuidade do cenário desafiador para o Bradesco, com pressão na qualidade da carteira de crédito, principalmente.
Entretanto, é importante destacarmos que, mesmo com todo esse cenário visto no resultado do 1T20, o banco ainda se encontra com índice de Basileia confortável, fechando o 1T20 em 13,9%, frente a uma necessidade legal de 10,25%.
Outro ponto positivo é o índice de cobertura acima de 90 dias, que apesar da queda de 220 bps, ainda fechou o trimestre em 227,9%, demonstrando que o Bradesco apresenta uma posição financeira relativamente confortável para atravessar esse período de crise, a depender de sua extensão.
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise do desempenho do BRADESCO no 1º trimestre/2020, elaborado VINICIUS SOARES, CFA, e WESLEY BERNABÉ, CFA, integrantes do BB Investimento.